Ideologia

A comentarista Maria Lúcia de Arruda Aranha na sua obra Filosofia da educação[1] divide a ideologia em 4 características. Essa síntese (a seguir) foi feita com base no Caderno do Professor de Filosofia[2].

1 – Abstração: Algo material que podem ser divinizados ou diabolizado. Exemplo: o trabalho pode ser algo bom, e em muitos casos é uma dádiva divina, pois lhe dá a estabilidade de sobrevivência ou mantêm as necessidades básicas. Por outro lado o trabalho pode ser considerado “ruim”, pois priva a pessoa do lazer, descanso além dos perigos eminentes de doença causadas por questões trabalhistas. O trabalho em si não é ruim, mas, ideologia impede as pessoas de refletirem sobre as péssimas condições trabalhistas.
2 – Universalização: Um grupo domina o outro, impondo valores como se fossem universais. Exemplo à colonização da América, outro exemplo que pode ser usado são as propagandas, algumas pessoas estereotipadas (brancas e ricas) ditam a moda, cultura, servindo de modelo para os menos críticos.
3 – Lacuna: O que a ideologia não diz. Por exemplo, o Brasil precisa de empresas para se desenvolver, mas não dizem que com a fábrica vem a degradação ambiental e quem pago por isso, somos todos nós. É a impressão de um falso progresso, não que a empresa não seja boa para o desenvolvimento, mas ocultam as conseqüências dessa implantação. Quando as propagandas divulgam a errônea idéia de que somos todos iguais, ricos ou pobres, homens ou mulheres, são pseudo-igualdade ocultadas por questões ideológicas.
4 – Inversão: Essa inversão pode ser ilustrada pelo muito da caverna platônica que confunde as sombras com a realidade. Por exemplo, colocamos valor num objeto (tênis), mas nunca refletimos que possivelmente pessoas foram exploradas como mão de obra barata ou escrava, para a confecção do produto (tênis). A ideologia e os meios de comunicações colocam quase sempre o poder monetário na frente ao humano, talvez essa seja a pior de todas as inversões!

SALA DE AULA
Com base nessas características de ideologia definida anteriormente, foi pedido que os alunos analisassem alguma imagem vinculada nos meios de comunicações. Vejamos a reflexão do aluno Felipe Carro de Camargo[3]


BARACK OBAMA COM A ESPOSA[4]


O aluno seguiu o esquema proposto respondendo as perguntas.
1 – Abstração: A que idéia a foto remete?
R: Que ele esta confiante no seu trabalho. E os norte-americanos poderão ter uma esperança futura.
2 – Universalização: A verdade para todos?
R: Cumprirá todas as promessas feitas em campanha para melhoria e soluções dos problemas do Estados Unidos e do Mundo.
3 – Lacuna: O que não esta dito?
R: Que eles (EUA) continuarão a controlar e explorar os países pobres e/ou invadido por eles em situação de guerrilha (exemplo o Iraque e outros).
4 – Inversão: A aparência pela essência, causa pelo efeito.
R: Aparentemente um salvador, essencialmente um presidente, que terá um congresso que o auxiliara nas mudanças para a política econômica mundial. A inversão, pondo ele como salvador é que nem tudo depende dele. Ele é apenas uma peça do quebra cabeça, e não o jogo inteiro.

Concluo sugerindo que, com essa experiência é possível propor uma reflexão dos alunos e alunas sobre temas atuais.



[1] ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2001.
[2] FILOSOFIA, Caderno do professor. Ciências humanas e suas tecnologias. 1ª série do Ensino Médio. 4º Bimestre de 2008. Secretaria da Educação - Governo de Estado de São Paulo, p. 16 – 17.
[3] Aluno do primeiro do ensino médio da Escola Estadual Clarisse Pelizone de Lima. – Platina – SP.
[4] Barack e Michelle Obama. Disponível em http://images.google.com.br. Acessado em 28 de novembro de 2008 às 12H 25.

Consciência Negra

A filosofia busca sempre a igualdade, seja ela social, política, econômica ou étnica. A filosofia grega antiga brota do desejo que todos os atenienses ou cosmopolitas tivessem suas opiniões formadas e elaboradas para defendê-las em praça públicas, onde eram tomadas a principais decisões das cidades (polis). Mas todos podiam opinar? Claro que não! Por que? Só podia defender suas idéias quem tivesse boa argumentação, ou seja, a chamada arte da retórica. Portanto a filosofia na tentativa de ser igualitária gerava desigualdades ideologias e sociais.

Essas desigualdades passaram milhares de anos e chegaram ao Brasil colonial. Uma forte desigualdade étnica se instala no novo continente, que percebemos suas raízes arraigadas na nossa sociedade. Isso conseqüência da histórica colonização de exploração praticada pelos portugueses a nossa nascente pátria. Essa colonização exploradora iniciou-se com tráfico de pessoas, começaram a contrabandear seres humanos do continente africano para o novo mundo. Ao chagarem nas novas terras, foram colocadas como escravos nos engenhos de cana de açúcar, sobretudo no Brasil.

É por esse rancho histórico de desumanidade, e pela discriminação sofrida por esses ascendentes afros, que por meio de lei federal o dia 20 de novembro foi dedicado ao DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA. Essa data foi escolhida em homenagem ao líder negro Zumbi que por muito tempo liderou o Quilombo dos Palmares.

Muitos não concordam com o jargão DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, pois essa atitude não pode ficar apenas num dia. Mas se tomarmos consciência da importância desse povo no início da nossa descoberta valorizaríamos sua riqueza, cultura, fé, costumes, hábitos alimentares, que são nosso jeito de ser mais genuíno. Ou vocês pensam que começamos a elaborar nossa cultura, fé, culinária, depois que acabou a escravidão no Brasil? Felizmente temos fortes traços desse povo que se organizou para que houvesse justiça social. Prova dessa luta e resistência são os Quilombos, essa palavra de origem africana que significa campo de guerreiros. Eles foram pessoas que na sua organização primordial iniciaram movimentos sociais importantes, são fontes mesmo que inconsciente da filosofia africana, filosofia da libertação na América Latina e teologias da libertação no mesmo continente citado anteriormente.

A nossa cultura é racista, por exemplo, o nosso maior símbolo folclórico (O Saci). Tudo de errado atribuem ao personagem de Monteiro; se um morcego trança a crina de um animal, se algum acidente ocasiona um incêndio, azedam o leite, quebram pontas das agulhas, escondem a tesourinha de unha, embaraçam os novelos de linha, fazem o dedal das costureiras cair nos buracos, botam moscas na sopa, queimam o feijão que está no fogo, goram os ovos das ninhadas, e a culpa recai sobre quem? Esses atributos ao saci, fazem parte do inconsciente coletivo racista brasileiro. Por que não poderia ser um português, ou alemão, ou norte americano fazendo bagunça, tem que ser alguém que lembre a cultura negra? Isso é o que? Racismo! Ou tem outro nome? Com todo respeito a Monteiro Lobato.

Por esses e outros motivos que se faz necessária a formação da consciência da importância dos afro-descendentes na formação do nosso povo tem que ser exercitada na educação básica escolar, familiar e social. E não é falando ou escrevendo que venceremos as diferenças étnicas, mas sim aceitado as diversidades culturais, religiosas e política no nosso cotidiano.

Por Márcio Alexandre da Silva (Márcio Alexandre da Silva é formado em Filosofia e educador da rede pública de ensino do Estado de São Paulo)

Educadores

Honrosamente, dia 15 de outubro é dedicado a todos os educadores e educadoras do Brasil (Dia do professor). Parece sintomático: quando essas datas festivas se aproximam, todos querem comentar a educação, quase sempre colocando os professores na berlinda. Não que outras pessoas que não sejam educadoras não possam emitir sua opinião sobre a educação. Mas o que vemos em diversos meios de comunicação (revistas, jornais e outros de circulação nacional), são economistas, empresários e políticos querendo fazer suas verdades sobre um tema tão peculiar e que é próprio de cada educador. Embora a educação nas unidades escolares deva ser democrática, ou seja, aberta à comunidade escolar e social.

Experiências de escolas participativas dão frutos concretos na realidade social inserida, mas isso não dá o direito de pessoas alheias à situação de ensino e aprendizagem cotidiana serem tomadas por donos das verdades educacionais. Todavia isso (os comentários de pessoas alheias à educação) não seja fator determinante para o insucesso educacional, o que se refere mais à falta de projetos coletivos educacionais.

Justifico a afirmativa anterior, dando as seguintes considerações. Como educador penso e observo que dentro das nossas escolas - públicas ou privadas - temos diversos profissionais, entre eles os educadores, coordenadores, diretores e funcionários, muitos preocupados com as causas pessoais. Infelizmente, na área da educação temos poucas causas coletivas, comuns ou grupais. Vemos diversas causas pessoais incrustradas na organização escolar: "meu projeto", "minha equipe de coordenação" (se é equipe não é sua, mas de todos), "minha festa", "direção" e por aí vamos indo, indo, indo...

Penso que o motivo da falta de eficácia educacional não é só a má formação dos professores, como muitos tentam vender. Temos nossas responsabilidades e devemos assumi-las. O calcanhar de Aquiles da educação no Brasil é a falta de consciência coletiva educacional. E depois, bastante importantes, vêm os vendedores de uma verdade mostrada por economistas e empresários de segunda .


Essa não é uma crítica a nenhum educador e educadora, a não ser a mim mesmo, enquanto agente, também, deste contexto.

Por Márcio Alexandre da Silva (Márcio Alexandre da Silva é formado em Filosofia e educador da rede pública de ensino do Estado de São Paulo)

Garotos

Dois meninos caminhavam pela floresta quando se deparam com um riacho.


* [1]

Um dos meninos chamado Filos diz: - Engraçado como Parmênides diz que nem nós, nem o rio somos mais os mesmo, pois tudo muda. O seu colega apelidado de Ethos indaga: - Como assim? Eu não sou eu mesmo! Não entendi.
Nem você nem o riacho são os mesmos, pois, tudo esta em constante mudança -, responde Filos em tom provocativo. Ethos não se agüenta em sua angústia filosófica de criança, ainda, e pergunta: - Como poderei chegar à máxima socrática "conhece a si mesmo", se eu não sou eu mesmo. E ri ironicamente como Sócrates, no auge de sua ironia.

** [2]




Filos diz: - Para solucionarmos esse questionamento penso que devemos recorrer ao filósofo de Hipona, Agostinho dizia que procura fora o que estava dentro de si, cunhando a célebre frase: "Tarde te amei, tarde te amei, oh beleza antiga e tão nova, eis que procurava fora o que estava dentro".

É uma busca incessante do transcendente, que se encontra dentro do nosso eu e causa tanta angustia do existir. É nessa busca da fundamentação existencial da cada ser, encontramos a solução imanente das nossas incessantes buscas, pelo saber, conhecer e viver com profundidade.
A história ilustra teorias como a de Parmênides do devir, em que tudo está em constante movimento...


*** [3]




... a antropologia existencial de Sócrates...

... e a transcendência imanência de Agostinho de Hipona, três importantes pensadores da Filosofia universal.



[1] Foto encontrada em: biblioteca_vania.blogs.sapo.pt
[2] Imagem encontrada em: http://www.upf.edu/larq/doctorat/pensador.jpg
[3] foto retirada de: http://www.utexas.edu/
Por Márcio Alexandre da Silva (Márcio Alexandre da Silva é formado em Filosofia e educador da rede pública de ensino do Estado de São Paulo)

EXISTÊNCIA

Quando falamos em existência pensamos logo na célebre frase cartesiana “Penso logo existo”.
Quando morei em Marília - SP, costumávamos visitar moradores de rua com uma comunidade religiosa (Toca de Assis) e lembrei-me deste episódio. Certa ocasião, um irmão de rua procurou uma delegacia de polícia para registrar uma agressão sofrida, chegando ao recepcionista foi indagado:
- Tens documentos?
Ele afirmou:
- Não.
- Onde moras? - prossegue o entrevistador.
- Não tenho onde morar! - responde, sem jeito, o irmão de rua.
O atendente pergunta: - Qual seu nome completo?
- Todos me chamam de Tião!
Daí o funcionário, dá o golpe definitivo: - Meu caro, sem endereço, documento e nome, para o Estado, você não existe, positivo. Tenha uma boa noite! - disse o recepcionista em voz intransigente.


Nós filósofos devemos no perguntar: Como? Pensar não é existir? Como na célebre cartesiana. Não tenho dúvida que este morador de rua pensava (em como se alimentar, onde dormir, e outros pensamentos próprios de cada ser). Daí, indago: Afinal, ele existe? Ou não?

Tento responder a pergunta da seguinte maneira, seguindo a linha de raciocínio da antropologia filosófica, que afirma que a existência não está submetida a nome, trabalho, moradia, embora isto faça parte do existir. Mas num linguajar existencial antropológico, o ser humano existe enquanto pessoa, gente, sonhador, lutador e sofredor. O que vai implicar a existência deste morador de rua é o meu e o seu tratamento para com essas e tantas outras pessoas que ficam à margem da existência humana.

O que fazemos para mudar esta realidade? Independentemente de sermos políticos, nossas atitudes devem ser prol dos menos favorecidos.

Esta história parece um mito, mas não é. É a mais pura verdade da realidade brasileira.
Quando eu criarei consciência ética e responsável para cobrar postura semelhante dos outro?


Por Márcio Alexandre da Silva (Márcio Alexandre da Silva é formado em Filosofia e educador da rede pública de ensino do Estado de São Paulo)

FILOSOFIA E MATEMÁTICA - Pitágoras e os pitagóricos

Três grandes amigos se encontraram, num congresso de uma Universidade Federal. Após longo tempo sem se verem, a curiosidade era grande em saber o que o outro fazia da vida, que quase todos juntos perguntaram: Qual a profissão de vocês? Nesse instante todos se abraçam, posteriores a esse reencontro começam a contar o que faziam da vida.

O primeiro disse: - Sempre pensava na afirmação do professor de filosofia dizendo que Pitágoras defendia que o princípio e a harmonia de todas as coisas são os números, por isso tornei-me matemático, e sou muito feliz.

O segundo relembra como esse educador filósofo o sensibilizou, pois ele sempre afirmava que o pensador grego (Pitágoras) dizia que os sons e a música são formas de purificação e catarse, por esse motivo tornei-me músico profissional, e estou realizado.

O terceiro afirmou lembrar dos ensinamentos de filosofia, que demonstrava os números como abstração mental (racional e racionalidade), e que os números na época de Pitágoras era algo existente na realidade e além dela, por esse motivo tornei-me filósofo, encontrei a maior felicidade, a arte de pensar.

O filósofo exclama ao matemático: embora seja profundo conhecedor da filosofia, sei que ela esta intimamente ligada a matemática e aos números, mas ainda não entendi qual o significado dos números paras Pitágoras e os pitagóricos?

Boa pergunta murmura o matemático. DOIS ELEMENTOS formam os números, a saber, o Primeiro, são indeterminado e ilimitado, ou seja, os números pares, portanto menos perfeito para esses pensadores citados anteriormente. O Segundo, determinante ou limitante sendo esses os números ímpares, tornado-os por isso perfeitos.

O amigo músico pergunta: - Como assim, explique melhor essa questão?
Como estavam num congresso o professor de matemática entra numa sala de aula e utilizando a lousa, faz o seguinte desenho:



E explica o matemático: - Os números pares (2 e 4 na ilustração acima) deixam um vácuo, onde as flechas passam pelo meio, sendo assim menos perfeitos, pois não contém nada, embora sejam ilimitados, não possuem obstáculos ou fim. Já os números ímpares (3 e 7 na mesma ilustração), apresentam-se uma unidade a mais, as flechas não passam por ele, sendo-os delimitado, por isso são mais perfeitos, pois conseguem conter algo.

Para encerrar esse assunto, após essa bela explicação disse o filósofo, lembro que isso é fruto do pensamento de Pitágoras e os pitagóricos.

Essa é uma breve história literária, usada para explicar a doutrina do número de Pitágoras e do pitagóricos.

Por Márcio Alexandre da Silva (Márcio Alexandre da Silva é formado em Filosofia e educador da rede pública de ensino do Estado de São Paulo)

OLIMPÍADA E FILOSOFIA

Embora o investimento no esporte no Brasil não seja bom, ainda assim, isso não justifica a pífia participação do Brasil nas Olimpíadas de Pequim 2008.

O pensador grego Pitágoras de Samos, que viveu num período nascente da Olimpíada, classifica três figuras importantes para definir o papel do filósofo fazendo um paralelo com os Jogos Olímpicos. No início das Olimpíadas, existem os personagens emblemáticos dos comerciantes, atletas, e o que vai aos Jogos Olímpicos apenas para observar.

Os comerciantes: no período primórdios das atividades olímpicas os vendedores iam aos eventos esportivos, unicamente com intuito de vender seus produtos, eles nem se importavam com as competições, pensavam apenas em lucrar.


Os atletas: que na época grega eram aqueles que competiam para tornar-se virtuosos, pois ter corpo atlético era sinal de virtude para aquela época. Os competidores procuravam competir apenas pela honra de se consagrar campeão.

Os observadores: estes eram poucos, mas segundo Pitágoras, se assemelham aos filósofos. Não se deixavam mover por interesses pessoais como os comerciantes, não se deixavam levar pela vontade de competir para obter a glória. Mas o bom filósofo no sentido grego é aquele que olha o contexto, contempla (eleva os pensamentos ao mais alto nível intelectual), tem critério no julgamento. Esses observadores filósofos iam às Olimpíadas apenas para contemplar como os atletas competiam em busca de glórias, como os vendedores só pensavam em lucrar e nosso próprio bem estar.

Ao trazermos esse pensamento para a nossa realidade notamos que poucos atletas competem por prazer e sim pela gana de serem famosos e cada vez mais ricos. Os vendedores são as pessoas que só pensam no favorecimento próprio, num consumismo desenfreado. Os filósofos de hoje são os intelectuais que pensam sobre a situação em que vivemos, refletem, propõe, mas vemos muitos filósofos (pensadores da elite) na contemporaneidade que se vendem por ideologia política dominante, sempre pensando em favorecimento.

Ser filósofo não é ter feito o curso de filosofia - isso é pouco. É refletir sobre nossa vida, o nosso ser, agir, viver, pensar. Os filósofos-pensadores de hoje devem resgatar a mais genuína definição de amante da verdade e amigo do saber, de forma imparcial e livre.

Por Márcio Alexandre da Silva (Márcio Alexandre da Silva é formado em Filosofia e educador da rede pública de ensino do Estado de São Paulo)

LIBERDADE! O QUE É?


O que é liberdade? Se fizéssemos essa pergunta a um detento ele teria uma resposta, a um jornalista num regime ditatorial obteríamos outra argumentação; se perguntássemos, ainda, a um filósofo, ele daria a sua definição, talvez igual à dada pelo existencialista Sartre que afirma que somos condenados a ser livres, ou outras definições. A verdade é que se diz, se lê, ouve constantemente nos meios de comunicações sociais sobre liberdade na nossa sociedade, liberdade de expressão, de ir e vir, de pensamento, imprensa e tantas outras liberdades. Mas o que é liberdade? Como ser livre? E mais, como ser livre e ético? Num mundo de tantas “facilidades”.

Primeiro vamos definir o que precisamos efetivamente para exercitar a nossa liberdade ética? Penso que, antes de procurarmos reivindicar o nosso direito de sermos livres, devemos buscar auto controle interior, primordial para exercermos a nossa liberdade. Você controla a sua vida? Se sim se considere autônomo. Se não, como pode abdicar desse controle existencial e delegar a outra (as) pessoas essa função, tão particular. Ninguém pode controlar a sua vida? Muito menos você as dos outros!

Questões temporais são fundamentais para contextualizar-se dentro de uma possibilidade de tonar-se um ente eticamente livre. Lembre que você existe no tempo e no espaço, o tempo convencionalmente foi dividido em presente, passado e futuro. Se você perder a sua autonomia (controle de si) você perderá a força para enfrentar as dificuldades que virá. Se você perder a força, não vivera com fecundidade o momento presente e, se não viver o momento do agora baseado em seus valores, estará enterrando para sempre o seu passado e dificilmente conseguira ser livre. O passado é o ontem e nada podemos fazer ou mudar, o futuro será o amanhã que não sabemos se será ensolarado e florido ou nublado e opaco. Então nos resta pensarmos no momento presente, vivê-lo intensamente com a certeza de respondermos pelos nossos atos num futuro bem próximo.

Como podemos saber se somos eticamente livres? Ser ético é escolher entre o bem e mal. Você deve sempre fazer suas próprias escolhas sabendo que arcara por elas. Toda liberdade implica escolha, e não há escolha sem responsabilidades e responsabilidades nos remetem as conseqüências éticas boas ou más. A ética não é uma massiva santificação das pessoas. Nunca pode ser vista como uma força, forjadora de decisões, inibidoras da liberdade.

A solução para os problemas do mundo esta na unidade ética, numa busca de uma ética universal. O que nos une, pode mudar a nossa vida, casa, rua, escola e mundo. Mas se quisermos dialogar sobre as nossas divergências, estaremos fechando as possibilidades de diálogos.

Por Márcio Alexandre da Silva (Márcio Alexandre da Silva é formado em Filosofia e educador da rede pública de ensino do Estado de São Paulo)

Simpósio Internacional

De 25/8/2008 à 29/8/2008 - 2º Simpósio Internacional em Educação e Filosofia

Com o tema “Experiência, Educação e Contemporaneidade”, o evento será realizado em Marília (SP). Destina-se à comunidade científica (profissionais, docentes e alunos de graduação e de pós-graduação) interessados na temática a ser abordada e, particularmente, em discutir as relações entre educação e filosofia.

No primeiro dia será realizado o minicurso “O problema da experiência na filosofia de Dewey e Foucault”, com Jim Garrison, da Virginia Tech, Estados Unidos. A sessão de abertura “La dignidad de un acontecimiento. Acerca de una pedagogía de la despedida” ficará a cargo de Fernando Bárcena Orbe, do Departamento de Teoria e História da Educação da Universidade Complutense de Madri, Espanha.

O simpósio é organizado pelo Grupo de Estudo e Pesquisa Educação e Filosofia (Gepef) da Universidade Estadual Paulista (Unesp). A programação completa do evento, que tem apoio da FAPESP na modalidade Auxílio a Organização de Reunião Científica e/ou Tecnológica, e mais informações estão disponíveis em
www.gepef.pro.br/evento.htm

(Fonte: Agência Fapesp)

O “POR QUE” E O “PARA QUE” DA NOSSA EXISTÊNCIA

Quase sempre confundimos o POR QUE, com o PARA QUE. Na indagação são apenas perguntas. A segunda forma vai mais além: há também uma interrogação, mas ela dá respostas para ao ato de interrogar.

Explicarei melhor. Normalmente perguntamos o por que acontecem determinadas coisas. E nos esquecemos do para que? Para ilustrar tomemos um exemplo comum. Você já deve ter se perguntado o por que da filosofia? Se já fez esta indagação já esta filosofando mesmo sem querer ou saber. Mas devemos nos perguntar o para que o filosofar? Para melhor ilustrar podemos dizer que o por que: é o sentido filosófico dos nossos questionamentos. E o para que: o sentido existencial das nossas indagações.

Freqüentemente perdemos entes queridos. E sempre nessas situações inferimos a questão do por que dessas mortes? Algumas de forma tão primaria e inesperada. Quando se tem essa atitude de perguntar sobre essas perdas, a pessoa esta filosofando sobre o sentido da morte, que esta intimamente ligada com o sentido da vida.

Mas devemos ir além e, entender o para que a morte? Ela existe para que nós seres humanos, dotados de orgulho e soberbas percebamos que a vida é finita, e após essa descoberta valorizarmos nossas vidas e as dos outros, pois como disse William Shakespeare (1564 1616) “As pessoas que amamos vão embora sem se despedir de nós”.

Mas a morte por mais drástica que seja é a chave de todo o processo da existência, fruto da perenidade da natureza humana, por mais dura que seja a realidade da finitude da vida terrena.
Filosofia deriva de duas palavras gregas que significa amor ao saber. As pessoas buscam mesmo que de forma inconsciente, saber o por que da perda de nossos próximos, quando assim nos comportamos, estamos sendo amiga e amigo do saber, querendo entender a morte. E para que entender a morte? A ciência médica consegue até prolongar a vida, mas não consegue dar resposta para a humanidade sobre a morte. Neste momento entra a filosofia que tenta dar soluções ou formulações sobre o sentido das vidas, pois é compreendendo a vida que entenderemos a morte, pois quem soube viver, saberá morrer, a morte é o termômetro de como foi à vida da pessoa. Daí a resposta simples do para que a morte? Para compreendermos o sentido da nossa vida.

Não importa em que grau de questionamento você esteja (no POR QUÊ? Ou no PARA QUÊ?). O que interessa é que você reflita sobre a sua vida, seu existir e a sua finitude, boa reflexão a todos e todas.

Por Márcio Alexandre da Silva (Márcio Alexandre da Silva é formado em Filosofia e educador da rede pública de ensino do Estado de São Paulo)

Julgamento de Sócrates

O professor de filosofia chegando à escola da pequena cidade do interior paulista propõe uma simulação do julgamento do grande pensador grego, Sócrates. Montaram o cenário, com juiz, acusadores, defesa e é claro o réu. E fizeram um roteiro da pequena peça. Com autorização do educador, iniciaram a encenação.

O interprete de Sócrates recusa o seu direito de defesa, pois se defender é se auto acusar. Sem perder tempo, a acusação começa: - Esse homem, na vossa frente, não crê nos nossos deuses locais venerados. Como pode, abandoná-lo e interessar-se pela problemática humana. Ele tira o poder dos deuses, e, coloca-o na sabedoria humana. Ah! Pergunte para ele? Qual a essência do homem? Dirá que é a alma humana, e não nossos deuses. Quero que prestem muita atenção no que direi e encerro a minha fala, esse tal de Sócrates, chegou a afirmar que a alma humana é a maior riqueza que os mortais tamanha a sua petulância! Como se isso fosse suficiente, ainda corrompe nossos jovens a segui-lo.

O juiz ouve atentamente as acusações. E pergunta: - Sócrates você quer se defender?
Ele apenas acena com a cabeça negativamente.

O juiz pede um tempo, para analisar o processo, após longa espera, o juiz volta e diz: - Vocês acusam esse homem, porque ele afirma que o maior bem humano não é o corpo, mas sim a psyche, ou seja, a alma, a inteligência. A alma nos ordena com a célebre frase socrática “Conhece a ti mesmo”. Esse homem além de extremamente virtuoso, propõe nada mais que autodomínio da racionalidade, sugerindo uma liberdade interior que controle os instintos e desejos. Ele afirma que a felicidade não vem das coisas exteriores, e não mesmo, mas sim do intimo alma humana. Vocês querem condenar um homem que propõe a paz, pois a única arma existente para ele é a razão persuasiva. Sabe por que Sócrates não acredita nos nossos deuses? Pois para esse sábio há um Deus Inteligente e Ordenador, por isso ele não venera nossos deuses. Nisso a assembléia se revolta. Uma pequena confusão se forma. Mas o juiz pacificou dizendo que anunciaria a sua decisão. Após pedir ordem disse: - Eu em nome da lei que me foi confiada eu te absolvo. A confusão tornou-se a complicar e acabaram por lincharem Sócrates.

E o apresentador da simulação encerra com voz forte e pausadamente. - Mas uma vez a democracia, vontade da maioria condena Sócrates.

O professor finaliza a aula dessa forma: - Essa história é inverídica, usada apenas para aludir como ainda hoje condenamos sábios, com base nos nossos princípios religiosos, morais ideológicos e políticos.

Por Márcio Alexandre da Silva (Márcio Alexandre da Silva é formado em Filosofia e educador da rede pública de ensino do Estado de São Paulo)