Julgamento de Sócrates

O professor de filosofia chegando à escola da pequena cidade do interior paulista propõe uma simulação do julgamento do grande pensador grego, Sócrates. Montaram o cenário, com juiz, acusadores, defesa e é claro o réu. E fizeram um roteiro da pequena peça. Com autorização do educador, iniciaram a encenação.

O interprete de Sócrates recusa o seu direito de defesa, pois se defender é se auto acusar. Sem perder tempo, a acusação começa: - Esse homem, na vossa frente, não crê nos nossos deuses locais venerados. Como pode, abandoná-lo e interessar-se pela problemática humana. Ele tira o poder dos deuses, e, coloca-o na sabedoria humana. Ah! Pergunte para ele? Qual a essência do homem? Dirá que é a alma humana, e não nossos deuses. Quero que prestem muita atenção no que direi e encerro a minha fala, esse tal de Sócrates, chegou a afirmar que a alma humana é a maior riqueza que os mortais tamanha a sua petulância! Como se isso fosse suficiente, ainda corrompe nossos jovens a segui-lo.

O juiz ouve atentamente as acusações. E pergunta: - Sócrates você quer se defender?
Ele apenas acena com a cabeça negativamente.

O juiz pede um tempo, para analisar o processo, após longa espera, o juiz volta e diz: - Vocês acusam esse homem, porque ele afirma que o maior bem humano não é o corpo, mas sim a psyche, ou seja, a alma, a inteligência. A alma nos ordena com a célebre frase socrática “Conhece a ti mesmo”. Esse homem além de extremamente virtuoso, propõe nada mais que autodomínio da racionalidade, sugerindo uma liberdade interior que controle os instintos e desejos. Ele afirma que a felicidade não vem das coisas exteriores, e não mesmo, mas sim do intimo alma humana. Vocês querem condenar um homem que propõe a paz, pois a única arma existente para ele é a razão persuasiva. Sabe por que Sócrates não acredita nos nossos deuses? Pois para esse sábio há um Deus Inteligente e Ordenador, por isso ele não venera nossos deuses. Nisso a assembléia se revolta. Uma pequena confusão se forma. Mas o juiz pacificou dizendo que anunciaria a sua decisão. Após pedir ordem disse: - Eu em nome da lei que me foi confiada eu te absolvo. A confusão tornou-se a complicar e acabaram por lincharem Sócrates.

E o apresentador da simulação encerra com voz forte e pausadamente. - Mas uma vez a democracia, vontade da maioria condena Sócrates.

O professor finaliza a aula dessa forma: - Essa história é inverídica, usada apenas para aludir como ainda hoje condenamos sábios, com base nos nossos princípios religiosos, morais ideológicos e políticos.

Por Márcio Alexandre da Silva (Márcio Alexandre da Silva é formado em Filosofia e educador da rede pública de ensino do Estado de São Paulo)