Educação? Ou falta dela?

Por Márcio Alexandre da Silva*

Educação: termo atual na nossa sociedade. Existem vários artigos, livros, programas televisivos ou radiofônicos que abordam esse importante assunto. Nesse artigo faremos superficialmente a comparação entre educação grega e a atual.

Um dos males da educação são alguns “gabineteiros”. Nessa classificação se encaixam os teóricos, secretários e secretárias de educação e governantes, que do seu confortável e imponente gabinete, elaboram teorias lindíssima, pena que estas nunca serão posta na prática, haja vista sua inviabilidade de aplicabilidade. Na educação não deveria ter espaço, ou dar-se credibilidade as pessoas que estão lá nas suas salas aconchegantes e que às vezes elaboram teoricamente suas pedagogias e as despejam sobre o sistema de ensino. Saiam das suas saletas luxuosas e enfrente uma sala de aula extremamente lotada, crianças agressivas. Vejam os esforços de centenas de milhares de educadores e educadoras desse imenso Brasil, e não são poucos, que andam kilômetros e mais kilômetros por dia para lecionarem. Outros lecionam embaixo das árvores, quando tens árvores para se abrigarem!

Essa realidade descrita anteriormente é muito próxima da nossa rede pública de ensino. Quero ver os teóricos de “gabinetes” aplicarem nesse contexto descrito anteriormente a “pedagogia do amor”. Ou exigir qualidade de ensino e pagar gratificações a si mesmo com base no rendimento dos alunos, que eles mal conhecem, só pelos números. Ou será que não abortar esses assuntos?

Pior ainda, alguns comentadores da educação são economistas, políticos, governantes e até pessoas do senso comum, que pouco ou nada sabem sobre a belíssima arte de educar. Pois, quem sabe o que é ser um professor uma professora em uma sala extremamente lotada, com crianças com déficits educacionais e até nutricionais são os profissionais da educação que enfrentam os desafios de educar nesse Brasil que pouco ou nada valoriza a educação. Esses professores e professoras, quase sempre, ou nunca são ouvidos. Todas as vezes que aplicam qualquer método de ensino sem ouvir o professor, estão tratando a educação como um médico que prescreve um remédio para um paciente sem conversar com ele para saber quais são os seus sintomas. Esse é o grande erro da educação: não ouvir os educadores.

Embora seja excessivamente debatido nos dias atuais: a educação é um tema milenar. Desde a Grécia antiga. Naquele período, escravos instruídos eram pagos para ensinar crianças ricas a lerem e escreverem – educação básica para a época. Hoje temos também os “educadores escravos”. Os educadores da atualidade são escravos e escravas do seu tempo, normalmente trabalham em mais de uma escola e até duas ou mais cidades. Se prendem as funções, auto-suficiência, ingerência estatal e inúmeras situações que os e as escraviza. No entanto, a pior escravidão da educação são os salários que não libertam ninguém.

No período grego antigo, havia muita exclusão educacional. Pois, os desprovidos de bens, não tinham como adquirir “educadores escravos”. E hoje todos conseguem colocar seus filhos em boas escolas? Ou dar-lhe educação adequada, tais como: cursos de línguas estrangeiras, informáticas, ioga e balé? Todos podem dar educação holística aos filhos e filhas? Não!

Os gregos que não podiam pagar educadores aos seus filhos eram obrigados a colocá-los num ofício. Já que não podiam ser educados, deveriam aprender ao menos uma profissão. Por conta disso muitos iam para oficinas exercitar alguma habilidade específica ainda criança. Analogicamente no Brasil temos muitas crianças que deixam de ir à escola para trabalhar e ajudar na renda familiar é o que chamado de exploração de trabalho infantil, mas comum no Brasil do que imaginamos. Quantos centenários se passaram? E ainda o econômico, o sustento familiar, ainda são primordiais do que o aprendizado.

Infelizmente no Brasil, algumas argumentações e discursos educacionais vazios por parte dos governos, manipulam a grande massa encefálica que acreditam que os órgãos públicos estão investindo como deveriam na educação.

A educação é o que manterá o presente estável e futuro desse país. Não adianta projeta a educação algo a vir. Atitudes devem ser tomadas no presente, para colhermos os frutos posteriormente.

*Márcio Alexandre da Silva é formado em filosofia e educador. E-mail: marciobressane@hotmail.com

Carta aberta aos senadores da república*

Alguns brasileiros, assim como os espartanos, consideram o roubo uma prova de astúcia e, como tal, aceitável, contanto que não sejam flagrados.

É muita conhecida a história de um jovem espartano que sendo surpreendido ao roubar uma raposa, escondeu-a debaixo da túnica, e, para não se denunciar, deixou que o animal lhe devorasse o ventre sem dar a menor demonstração de dor.

Provavelmente a história não é verdadeira, porém exprime perfeitamente certos ideais espartanos. Ideais que alguns brasileiros, parece, teimam em perseguir.

Afinal, sabem que vivemos uma timocracia [1] e não uma democracia. Portanto, fazem coro ao ’tudo por dinheiro’ pois que, com ele, conquistam e mantém o poder. Até o pátrio poder.

Esse tipo de governo, no Brasil, se estabelece com a Constituição Imperial, outorgada pelo Imperador em 1824, que instituiu a eleição vitalícia para o Senado e estabeleceu que para ser eleitor era preciso ter pelo menos 25 anos e 100 mil réis de renda anual. Para ser Deputado, era necessário ter 200 mil réis de renda anual e, para ser Senador, a renda necessária era de 800 mil réis por ano.

Como se vê, os Senadores sempre foram de outro mundo. De outra ordem.

E o Brasil, independente política e juridicamente, continuou dependente econômica e socialmente, e entrou na era do arbítrio e da exceção: D. Pedro destitui a Constituinte e manda o exército invadir o plenário.

O Brasil, após a Independência, mantém-se a única monarquia do continente e o único país da América do Sul cuja economia se baseava no trabalho escravo.

Os nove anos do período regencial desvendam as mazelas da política brasileira – muitas das quais permanecem inalteradas. No Império, a facção mais conservadora da elite brasileira se aproxima do poder. Uma elite favorável a uma maior autonomia, mas não necessariamente à sua independência.

Os senhores Senadores da República, na sua maioria, demonstraram não defender a independência do Senado, no caso ‘Renan’ e no recente caso “Sarney’. Optaram por manter intocados os seus privilégios de elite regressista. Esconderam a raposa, e, para não se denunciar, deixaram que lhes devorasse as vísceras. Pouco se importaram em macular uma instituição como a do Senado da República.

Muitos, tal qual José Bonifácio de Andrada e Silva que defendeu o sufrágio indireto censitário, de base econômica, defendem a sessão secreta, os atos secretos. Tal qual José Bonifácio, o Ministro todo-poderoso que mandou prender, exilar, investigar e molestar inúmeros adversários políticos, intimidam funcionários e acuam outros Senadores.

E uns poucos, pusilânimes, não se posicionam. Preferem a abstenção. Afinal não nos representam, nem ao Estado, apenas defendem seu status quo.

Pelintras, patifes, pulhas... Ainda os há!

Conquistar a emancipação definitiva e real da nação, ampliar o significado dos princípios democráticos, foram tarefas delegadas aos pósteres. Se não nos restar a organização popular restará, ao menos, a desobediência civil.

“A desobediência civil é um direito intrínseco do cidadão. Não ouse renunciar, se não quer deixar de ser homem. A desobediência civil nunca é seguida pela anarquia. Só a desobediência criminal com a força. Reprimir a desobediência civil é tentar encarcerar a consciência” (Ghandi).

* Por Prof. Ms. Carlos Paiva - Professor de Filosofia e História da Educação