Carta aberta aos senadores da república*

Alguns brasileiros, assim como os espartanos, consideram o roubo uma prova de astúcia e, como tal, aceitável, contanto que não sejam flagrados.

É muita conhecida a história de um jovem espartano que sendo surpreendido ao roubar uma raposa, escondeu-a debaixo da túnica, e, para não se denunciar, deixou que o animal lhe devorasse o ventre sem dar a menor demonstração de dor.

Provavelmente a história não é verdadeira, porém exprime perfeitamente certos ideais espartanos. Ideais que alguns brasileiros, parece, teimam em perseguir.

Afinal, sabem que vivemos uma timocracia [1] e não uma democracia. Portanto, fazem coro ao ’tudo por dinheiro’ pois que, com ele, conquistam e mantém o poder. Até o pátrio poder.

Esse tipo de governo, no Brasil, se estabelece com a Constituição Imperial, outorgada pelo Imperador em 1824, que instituiu a eleição vitalícia para o Senado e estabeleceu que para ser eleitor era preciso ter pelo menos 25 anos e 100 mil réis de renda anual. Para ser Deputado, era necessário ter 200 mil réis de renda anual e, para ser Senador, a renda necessária era de 800 mil réis por ano.

Como se vê, os Senadores sempre foram de outro mundo. De outra ordem.

E o Brasil, independente política e juridicamente, continuou dependente econômica e socialmente, e entrou na era do arbítrio e da exceção: D. Pedro destitui a Constituinte e manda o exército invadir o plenário.

O Brasil, após a Independência, mantém-se a única monarquia do continente e o único país da América do Sul cuja economia se baseava no trabalho escravo.

Os nove anos do período regencial desvendam as mazelas da política brasileira – muitas das quais permanecem inalteradas. No Império, a facção mais conservadora da elite brasileira se aproxima do poder. Uma elite favorável a uma maior autonomia, mas não necessariamente à sua independência.

Os senhores Senadores da República, na sua maioria, demonstraram não defender a independência do Senado, no caso ‘Renan’ e no recente caso “Sarney’. Optaram por manter intocados os seus privilégios de elite regressista. Esconderam a raposa, e, para não se denunciar, deixaram que lhes devorasse as vísceras. Pouco se importaram em macular uma instituição como a do Senado da República.

Muitos, tal qual José Bonifácio de Andrada e Silva que defendeu o sufrágio indireto censitário, de base econômica, defendem a sessão secreta, os atos secretos. Tal qual José Bonifácio, o Ministro todo-poderoso que mandou prender, exilar, investigar e molestar inúmeros adversários políticos, intimidam funcionários e acuam outros Senadores.

E uns poucos, pusilânimes, não se posicionam. Preferem a abstenção. Afinal não nos representam, nem ao Estado, apenas defendem seu status quo.

Pelintras, patifes, pulhas... Ainda os há!

Conquistar a emancipação definitiva e real da nação, ampliar o significado dos princípios democráticos, foram tarefas delegadas aos pósteres. Se não nos restar a organização popular restará, ao menos, a desobediência civil.

“A desobediência civil é um direito intrínseco do cidadão. Não ouse renunciar, se não quer deixar de ser homem. A desobediência civil nunca é seguida pela anarquia. Só a desobediência criminal com a força. Reprimir a desobediência civil é tentar encarcerar a consciência” (Ghandi).

* Por Prof. Ms. Carlos Paiva - Professor de Filosofia e História da Educação

4 Response to "Carta aberta aos senadores da república*"

  1. Mario Augusto Says:
    8 de setembro de 2009 às 20:03

    Não podemos chamar o senado brasileiro de SENADO, e sim de casa dos Horrores. Enquanto uns vivem em plena miséria (Se é que posso usar essa palavra, MISÉRIA) outros compram pequenas casinhas, de 4 milhoes reais, com o dinheiro do povo, que é pior.
    Tantas vezes me questiono, houve há algum tempo atrás, dois vereadores da camara de municipal de Palmital (cidade na qual eu moro)brigaram, e brigaram feio mesmo, motivo? Quem tinha mais poder perante a população. Ambos estavam errados, e o video foi para o Youtube, hoje tem mais de 40 mil acessos, e o que eles ganharam com isso? Os dois perderam a eleição, e iram continuar brigando por um espaço que nem deles é?
    Sou um mero estudante da rede pública, mais que posso questionar sim, o trabalho de um politico corrupto, por mais que ele não veja isso, alguem vai ver, e vai saber que não esta sozinho para lutar pelos proprios direitos, somos HUMANOS(infelizmente), mais ja que nascemos assim, vamos lutar pelo que é nosso, só assim teremos paz nessa casa dos HORRORES que a cada dia está pior.
    Mais uma vez agradeço ao senhor Professor Marcio, por abrir esse espaço para que possamos demonstrar oque muitas vezes não temos coragem de falar.
    (Não tenho costume de colocar acentos, por isso não me levem a mal... rs)

    (Mario Augusto, 2ºA (E.M)escola Oswaldo Moreira da Silva - Palmital-SP)

  2. arioba Says:
    11 de setembro de 2009 às 06:03

    Caro Márcio, por fim você chega onde tenho dito aqui várias vezes, ainda continuamos uma ditadurazinha das bananas, como toda a América Latina, exatamente como éramos na época colonia e depois imperial!!

    Nas ditaduras, caro amigo, tudo é válido, até um "Idi Amin de Garanhuns", pois estamos numa ditadura socialista do "pudê". que substituiu a ditadura dos "milicos", etc. etc.

    Só há uma solução, que é universal. Somente as Forças Armadas mantêm ou derrubam ditaduras, e até mesmo democracias!
    Nossas Forças Armadas sempre foram "lambe-botas" de ditadores! Os militares, e também os religiosos, são as elites mais bem preparadas em qualquer sociedade, mas faltam-lhe o sentido de "democracia pelas leis", e não pelo "papa da vez"!! Aprendem a se subordinar "dogamticamente" ao lider máximo, pouco importa quem seja, pode ser até um louco!!

    Eu já comecei a "cutucar" nossas lideranças militares, há vários anos. Enviei uma mensagem aos três ministros militares há uns 4 anos atrás, dizendo que nossas Forças Armadas eram "lambe-botas", claro que nunca tive sequer resposta. E sempre que tenho oportunidade, cutuco alguém de alto escalão das Forças Armadas. Se essas lideranças não deixarem de ser "lambe-botas", vamos continuar ditadura das bananas, como sempre fomos!!
    De vez cutuco também lideranças religiosas, que também fazem parte do esquema ditatorial "feudal" que ainda comina o mundo!!

    Ariovaldo Batista

  3. Marcio Ewald Petrópolis says:
    12 de setembro de 2009 às 15:59

    Acredito que não há nada o que possamos fazer. Se pedimos nossos diereitos, quem os julga favorece aos mesmos corruptos. Se precessamos dependemos de juízes que não está próximos dos direitos humanos. Se votamos certo, 90% votam do mesmo jeito que elege este tipo de gente. Com tantos advogados, defensores, juizes e autoridades não há alguém que faça defender os direitos cidadãos?
    Márcio Ewald (petropolis)

  4. Anônimo Says:
    27 de setembro de 2009 às 13:44

    Senado,
    Senadores traem os anseios populares. Como uma prostituta que procura cliente que lhe pague mais e mais. Traidores!