A incrível arte de escrever e poder expressar as nossas imaginações e colocar nessas [imaginações] algo da realidade. É o dualismo platônico do real e do ideal. O texto a seguir é literário (idéias), como elementos concretos da realidade (real). Está disposto (a) fazer essa viagem, aperte o cinto da razão e solte as asas da imaginação... Bom vôo!
O texto a seguir é literário, mas tem uma densidade de realidade.
Um jovem brasileiro insatisfeito com as crises de referências humanas no Brasil visita o Tibet, onde encontra um velho eremita. Esse estava com a obra Macunaíma de Mario de Andrade.
O jovem pergunta: - Porque o interesse pela literatura brasileira?
O velho hesita. Não responde e indaga: - O que fazes no Tibet?
O jovem brada: - Procuro resposta para a falta de referências humanas no Brasil...
Prossegue o velho: - O Brasil já teve grandes líderes; na educação Paulo Freire e Darcy, entre outros: na música Chico, Caetano, Gil e Bethânia; na fé, grandes baluartes, como Claudio Hummes, Paulo Arns, Casaldáliga, Hélder Câmara, frei Betto, Leonardo Boff e Rubem Alves, entre muitos.
O jovem diz: - Esses foram ótimos líderes, mas pouco se fala em Teologia da Libertação [TL] no Brasil. E a música chegou ao final do poço.
O velho já entristecido pergunta: - E o grande líder sindicalista, que conseguiu organizar com ajuda de outros e outras, em 1985 uniu celebridades e povo simples para juntos saírem a ruas é gritarem por Diretas Já. Como é mesmo o nome dele?
O jovem entristece ainda mais: - Lula! Lutou pelos direitos dos trabalhadores e excluídos, fundou o Partido dos Trabalhadores (PT) e, tornou-se o primeiro presidente operário [metalúrgico] do Brasil. Deixando saudade do sindicalista sincero e sensível às necessidades dos necessitados.
O sábio eremita concluiu: - O filósofo e teólogo José Comblin relembra a anedota do jumento, que ao mudar de dono não se alegra, pois só muda o batedor, mas os chicotes e as chicoteadas são as mesmas.
O velho dá a sua última lição: - Como no clássico da literatura brasileira, Macunaíma [Mario de Andrade]: os heróis brasileiros não são tão bons como se pensavam, sobretudo os políticos.
O jovem contribui: - Precisamos de referências para nos espelharmos, não para nos dominar, mas, ser incentivo para empenharmos numa mudança política, social e econômica.
O jovem aproxima-se do velho e indaga: - Como sabes tantas coisas do Brasil?
O ancião, como os olhos lacrimejando responde: - Nasci no Brasil, e com 18 anos de idade, devido ao Golpe Militar [1964], exilei-me no Tibet, em busca de paz e harmonia. E nunca mais tive vontade de voltar ao Brasil!
Reflitamos terminamos mais um ano; quem foram destaques em 2008? Operação Satiagraha, Dantas, Pitta, crise econômica se intensifica, morte de Isabela Nardoni e muitas outras tragédias. CADÊ NOSSAS REFERÊNCIAS? Cadê nossos líderes? Onde estão os nossos heróis?
O texto a seguir é literário, mas tem uma densidade de realidade.
Um jovem brasileiro insatisfeito com as crises de referências humanas no Brasil visita o Tibet, onde encontra um velho eremita. Esse estava com a obra Macunaíma de Mario de Andrade.
O jovem pergunta: - Porque o interesse pela literatura brasileira?
O velho hesita. Não responde e indaga: - O que fazes no Tibet?
O jovem brada: - Procuro resposta para a falta de referências humanas no Brasil...
Prossegue o velho: - O Brasil já teve grandes líderes; na educação Paulo Freire e Darcy, entre outros: na música Chico, Caetano, Gil e Bethânia; na fé, grandes baluartes, como Claudio Hummes, Paulo Arns, Casaldáliga, Hélder Câmara, frei Betto, Leonardo Boff e Rubem Alves, entre muitos.
O jovem diz: - Esses foram ótimos líderes, mas pouco se fala em Teologia da Libertação [TL] no Brasil. E a música chegou ao final do poço.
O velho já entristecido pergunta: - E o grande líder sindicalista, que conseguiu organizar com ajuda de outros e outras, em 1985 uniu celebridades e povo simples para juntos saírem a ruas é gritarem por Diretas Já. Como é mesmo o nome dele?
O jovem entristece ainda mais: - Lula! Lutou pelos direitos dos trabalhadores e excluídos, fundou o Partido dos Trabalhadores (PT) e, tornou-se o primeiro presidente operário [metalúrgico] do Brasil. Deixando saudade do sindicalista sincero e sensível às necessidades dos necessitados.
O sábio eremita concluiu: - O filósofo e teólogo José Comblin relembra a anedota do jumento, que ao mudar de dono não se alegra, pois só muda o batedor, mas os chicotes e as chicoteadas são as mesmas.
O velho dá a sua última lição: - Como no clássico da literatura brasileira, Macunaíma [Mario de Andrade]: os heróis brasileiros não são tão bons como se pensavam, sobretudo os políticos.
O jovem contribui: - Precisamos de referências para nos espelharmos, não para nos dominar, mas, ser incentivo para empenharmos numa mudança política, social e econômica.
O jovem aproxima-se do velho e indaga: - Como sabes tantas coisas do Brasil?
O ancião, como os olhos lacrimejando responde: - Nasci no Brasil, e com 18 anos de idade, devido ao Golpe Militar [1964], exilei-me no Tibet, em busca de paz e harmonia. E nunca mais tive vontade de voltar ao Brasil!
Reflitamos terminamos mais um ano; quem foram destaques em 2008? Operação Satiagraha, Dantas, Pitta, crise econômica se intensifica, morte de Isabela Nardoni e muitas outras tragédias. CADÊ NOSSAS REFERÊNCIAS? Cadê nossos líderes? Onde estão os nossos heróis?
Onde se escondem as referências para a posteridade? Sarney? Temer, Dilma? Serra? Padre Marcelo?...Cadê? Quem? Com todo respeito aos citados anteriormente, mas, esses são poucos! Enquanto aguardamos novas referências, vamos, nós mesmos, fazer a nossa parte e contribuir para que 2009 seja um ano melhor.
7 de fevereiro de 2009 às 05:25
Na década de setenta, na musica Como Nossos Pais, Belchior já dizia: "Nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam, não." Pois é! Na música ainda sou mais Chico, Milton, Tom, Gil, Veloso e por aí vai. "Ainda são os mesmos"
Na politica o que dizer? O Congresso Nacional espelha bem o que temos. Hoje não podemos mais dizer: "Salvo raríssimas..." São todos farinha do mesmo saco.
Nas religiões o que vemos são pedófilos em uma, tetos desabando em outra, homens bomba na mais radical e ...
Vou ficar por aquí, pois se mais jovem fosse, iria correndo para o Tibet. Não, para o Tibet não. Lá a violência campeia também.
Tá difícil.
Parabéns pela abordagem de um tema cheio de armadilhas e muita polêmica.
Abraços
Carlos Montagnoli
7 de fevereiro de 2009 às 06:07
É lamentável quando nossos ídolos são do típo Richielieu e outras figurinhas católicas do feudalismo, Marx, Lenin, Stalin, Hitler, Mussolini, Fidel, Lula, e outros dinossauros que ficaram para trás dos seus ancestrais irmãos.
Comparem o feudalismo católico da Idade Média, o socialismo marxista e o comunismo, e verão que estes são cópias bastardas do primeiro, só se diferem no nível das lideranças, por isso a Igreja Católica tem 1.700 anos, e o comunismo soviético durou apenas 70!!
Entre Pe. Marcel e Leonardo Boff o primeiro dá de 10 a zeros. Fale para o Boff colocar 200 fiéis numa igreja, sem sem ser os "neguinhos comunistas sem terra" alijados pelas suas elites paquidérmicas!!
Esse brasileiro socialista frustrado lá no Tibet, com certeza encontrou outro comunista braileiroa fugidio, pois se tivesee conversado com um verdadeiro monge tibetano, não poderia estar falando tanta bobagem.
Meu amigo Márcio, não sei se você é socialista, mas se for, e quiser discutir um pouco sobre isso, estou à disposição, senão, toda a vez que falar de soc8ialismo aqui, vou descer o cacete mesmo.
Abraços.
Ariovaldo.
7 de fevereiro de 2009 às 06:43
Obrigado pela colaboração Ariovaldo.
O jovem brasileiro e o monge tibetiano são apenas figuras literárias, compete a nós transferi-lo para realidade, você transferiu ambos como comunista é uma liberdade de escrita sua, parabéns!
Decididamente não sou socialista, não tenho problemas com quem seja apenas expresso o que penso. Mas se você quiser debater sobre socialismo, marxismo esse é um canal aberto, sinta-se a vontade. Enfatizo se você quiser discutir idéias estou à disposição, como você disse pode “descer o cacete mesmo”. Mas repito debateremos idéias sem expor a minha, a sua ou qualquer outra pessoa debatente no blog. Pode ser assim?
Você tem contribuído com muita propriedade e sapiencia nesse blog é bom debater com pessoas de tão alto nível, agradeço.
E espero outras visitas.
Márcio – Autor
7 de fevereiro de 2009 às 06:43
Carlos você fez um resgate histórica que retrata que estamos desprovidos de referencias na música (embora tenhamos bons cantores e cantoras, você citou alguns), na política como disse raríssimas exceções, ainda há pessoas honesta, na fé, já referendou. Mas ainda nos falta liderança! Não achas?
Que bom que viajou na historia, pois se fosse mais jovem e no Tibet tivesse paz você faria essa viagem. Mas, podemos fazê-la [viaje a Tibet] no mais intimo do nosso ser e buscarmos forças para superarmos as dificuldades, alegoricamente falando o “Tibet”, a paz esta dentro de ti, basta buscá-la e você consegue.
É de polemicas que vivemos!
Obrigado Carlos Montagnoli você deu uma pincelada decisiva na continuidade do debate, parabéns pela sensibilidade.
Márcio – Autor do texto original
7 de fevereiro de 2009 às 06:44
Comentario ao Blog de Filosofia.
Prezados amigos.
Parabens pelos artigos a reseito das Referencias, eu poderia chamar de Valores, é tudo isso que o professor falou e postou, perdemos as referencias, os valores, o respeito, vivemos na Era das Incertezas, tempos dificeis, pessoas que nunca plantaram se habilitam a colheita, pessoas que ganham sem trabalhar, oportunismo, e o que é mais lamentavel norm,almente os exemplos tem vindo de cima, daqueles que teriam que dar o exemplo, um pequeno cito agora, temos um Presidente que diz com a boca cheia que nao le jornais, revistas, e o que é muito pior , num evento da Bienal do Livro em Sao Paulo ha 2 anos ele citou que nao gosta de leitura porque os livros sao muito grossos, esse é a nossa referencia, pobre do Povo Brasileiro, pobre de nossas criancas e jovens. Mas eu nao desanimo, nao conto mais com essas pessoas para nos ajudar num mega projeto chamado O Despertar da Consciencia, para isso contaremos com Edgar Morin, o Sociologo Frances que prega a reeligacao dos Saberes, o Pensamento Sistemico de Fritjof Capra, a Economia Revolucionaria de Alvin Toffler, sem o capitalismo especulativo e sim pela Economia Produtiva e sustentavel, e o Despertar da Consciencia, do Ecologista Jose Pedro naisser, que é tambem amigo do Dr.Al Gore, e do Lord Nicholas Stern, o que luta tambem contra as Mudancas Climaticas em seu Relatorio para a ONU, Relatorio Stern, com esses poderemos dar o inicio da grande mudanca e mudaremos as referencias com relacao ao Ser Humano, que passara de competitivo para colaborativo, do ter para o ser e do eu para o nos...., soubemos do seu Blog pelo Mauricio de Assis.SP.
Valeu amigos, vamos atras das grandes referencias que possam beneficiar a todos e nao os poucos que vemos hoje no mundo.
Vamos em frente.
Jose Pedro Naisser.
Ecologista e Humanista.
Curitiba.Pr.
7 de fevereiro de 2009 às 07:05
Agradeço ao senhor José Pedro pela belíssima aula de economia, ecologia, sustentabilidade e humanidade. Tudo isso sem agredir ninguém ou desmerecer alguém.
Com certeza, o que o José Pedro Naisser nos recomenda, é que cada um seja uma referencia para as outras pessoas e com bases em grandes nomes como os citados no comentario consigamos um país, mas habitável e sustentável.
Desejo mais ensejos seu nesse blog, é bom ouvir um ecologista e humanista que expressa suas idéias com clareza e profundidade.
Parabéns e obrigado!
Márcio – Autor do texto original
7 de fevereiro de 2009 às 08:22
"Todo grande homem que conheci tinha alguma coisa pequena em sua formação; e era essa coisa pequena que impedia a inatividade ou a loucura ou o suicídio".
7 de fevereiro de 2009 às 08:31
Ubijara, você pode por gentileza de explicar melhor sua afirmação acima?
Sabendo da sua sabedoria, sei que voce explicará com o maior prazer.
Obrigado!
Márcio – Autor do texto original
7 de fevereiro de 2009 às 09:00
Os verdadeiros heróis brasileiros não são famosos e nem têm acesso à mídia. São todos aqueles heróis anônimos que lutam para sustentar suas famílias; como eu e você; que lutam para conseguir se formar; que lutam para conseguir um emprego, mas que renegam qualquer tipo de desonestidade contra seu semelhante. Lutam com suas próprias forças.
Mas no âmbito dos famosos, mesmo não tendo votado no Lula, mesmo criticando veementemente a conduta do tal PT, das ações totalmente contrárias aos discursos das campanhas políticas antes da posse e do poder, vai ficar para a posteridade um homem cercado por quadrilhas de trapaceiros, mas que foi o primeiro que se preocupou com a gentalha do Chaves da TV, com a ralé, com os da fome aguda e da seca perpetua, da divisão de um só ovo cozido por toda a família; das crianças barrigudas e dos adultos de pouca altura que nunca antes haviam tomado um sorvete, pois, depois do Lula, passaram, como se diz, a vislumbrar uma luz no final do túnel. Cem reais para nós bem pode significar uma pequena quantia, mas para aqueles do polígono da seca, significa uma fortuna mensal.
Waldecy
7 de fevereiro de 2009 às 09:01
Waldecy achou as nossas referencias! Quem se não nós mesmos, essa conclusão é hilaria, é isso mesmo Waldecy.
Brilante potuação do nobre comentario de Waldecy.
Márcio – Autor do texto original
7 de fevereiro de 2009 às 11:43
Parabéns pelo excelente artigo. Hoje é difícil encontrar referências, espelhos, para que possamos crescer. Um abraço, Hans Misfeldt - www.tutube.com.br
7 de fevereiro de 2009 às 11:45
Ao ler o artigo do Marcio percebi como estamos esperando que tudo caia em nossas mãos. Esperamos novas referencias, talvez, mas também estamos acomodados com o que à mídia nos influi. A modernidade tecnológica tem nos deixado preguiçosos. Temos preguiça de pensar, de idealizar e de agir. O que esperamos do Brasil? Talvez o que esperamos do Brasil é o que falta em nós, a iniciativa.
7 de fevereiro de 2009 às 12:03
Caro Professor
Excelente artigo, pura realidade. Apesar de sabemos de antemão das dificuldades para haver mudanças, não podemos deixr jamais de escrever, reagir, se indignar com tudo e todos que agem errado em nosso país. Parabéns!
Rafael Moia Filho
7 de fevereiro de 2009 às 13:55
Acredito que devamos sempre ser nossa própria referência. Não existe ou existiu no Brasil ou no mundo qualquer tipo humano que possamos nos espelhar .Todos têm seus defeitos .E por intermédio deles se exaltam numa forma de compensação. Existem vários tipos de compensação: A atitude política egoísta , a atitude do isolamento e a atitude da religiosidade ou sua ausência. Em todo o excesso vejo existirem maiores defeitos bem como o grande sofrimento. A história nos mostra: o pintor que corta sua orelha, um cantor que abre e fecha uma porta centenas de vezes a exaustão . Um músico que lava suas mãos diversas vezes(TOC). Vemos a insatisfação material fazer de um homem um herói ou um criminoso. São defeitos. E diante dos nossos pequenos defeitos, descuidados ficamos a observar os defeitos alheios ; fugindo-nos a gratidão de também possuí-los. O maior passo para ajudar o mundo é primeiramente conhecermos a nós próprios os nossos defeitos, para que possamos controlá-los e não ficar a mercê de atitudes que irão nos comprometer. Possivelmente ficaremos isentos de apertar o botão do míssil que fará explodir o mundo!
“Que a paz desça sobre toda a Terra e que esta comece em mim”
7 de fevereiro de 2009 às 14:27
Obrigado pela colaboração Hans Misfeldt!
Márcio Alexandre da Silva – Autor do texto original
7 de fevereiro de 2009 às 14:29
Como escreveu a Rosangela, a falta de iniciativa é principio que todos precisam para mudar o mundo.
Márcio Alexandre da Silva – Autor do texto original
7 de fevereiro de 2009 às 14:30
Concordo com Rafael Moia Filho, temos que escrever opinar e protestar contra o mundo a nossa volta, mas fazermos algo para mudá-lo [mundo].
Márcio Alexandre da Silva – Autor do texto original
7 de fevereiro de 2009 às 14:35
Podemos nos deixar guiar pela provocante e comprometedora afirmação de Ubirajara “Que a paz desça sobre toda a Terra e que esta comece em mim”.
Márcio Alexandre da Silva – Autor do texto original
7 de fevereiro de 2009 às 15:33
Muito boa esta prosa, do jovem e do velho! Eu também pergunto: "Onde estão as nossas referências?"! Se formos analizar o Brasil institucional, do passado e do presente, chegamos a conclusão, de que do velho ao jovem, nada mudou! Há muito, um País sem líderes, políticos e agentes públicos, confortavelmente têm deslizado nas facilidades e corrupção, com as benesses da impunidade! Infelizmente, ainda no Brasil, um malandro e bom orador, tem convencido grande parte da nossa castigada sociedade, principalmente aquela inculta, a troco de migalhas! Talvez este, o maior dos crimes, destes que temos guindados a postos importantes da nossa República, em nome da democracia! De qualquer forma, um alento! Esta gostosa prosa do jovem no Tibet, com um velho e sábio brasileiro, nos recompõe as esperanças, porque no meio deste dilúvio de incencibilidade humana, podemos encontrar bons conselheiros!
7 de fevereiro de 2009 às 17:22
Falta-nos um rosto, uma identidade.
O ROSTO QUE NOS FALTA
Gil Cordeiro Dias Ferreira
“Meu coração tem um sereno jeito, / E as minhas mãos, o golpe duro e presto, / De tal maneira que, depois de feito, / Desencontrado, eu mesmo me contesto...// Se trago as mãos distantes de meu peito, / É que há distância entre intenção e gesto; / E se meu coração nas mãos estreito, / Me assombra a súbita impressão do incesto...// Quando me encontro no calor da luta, / Ostento a agulha empunhadora à proa, / Mas o meu peito se desabotoa...// E se a sentença se anuncia bruta, / Mais que depressa a mão, cega, executa-a, / Pois que senão, o coração perdoa...
(Chico Buarque de Holanda e Ruy Guerra)
Na concisão do soneto, a eloqüente imagem da alma brasileira, que se deveria refletir em rosto a oferecermos ao mundo. Rosto que renegamos, et pour cause maquiamos. Com a cosmética alienígena de que, de público, demagogicamente declinamos, mas, às encolhas, reverenciamos.
A arte imita a vida, no poema de Chico e Ruy, que nos desnuda o espírito. É récita incidente no langoroso “Fado Tropical”, que musicou a obra de João Cabral de Melo Neto – “Calabar, o elogio da traição”.
Oportunos os versos, a canção e o contexto – Invasões Holandesas – da peça, se falamos de alma brasileira: ali, no Arraial de Bom Jesus, forjou-se a nacionalidade, nos arquétipos raciais do branco Matias de Albuquerque, do índio Felipe Camarão e do negro Henrique Dias. E de tanto, o que terá restado ?
Pois é quando Matias, antes Governador de Pernambuco, retorna de Madrid – vivia-se o Domínio Espanhol – como comandante militar, que lhe sobrevém a saudade do lar. E sua lírica alma lusitana o teria levado a declamar o que nela ia. Entretanto, tê-lo-ia feito frente ao espelho, que lhe refletia não só o gládio e o arcabuz, mas também o rosto. Esse rosto que nos falta. Ou não sei que mais nos falta !
Inútil clamar contra a espoliação branca, o negro misticismo das soluções mágicas, ou a indolência indígena. Assim nascemos, bom é que o saibamos, mas não que o choremos per omnia secula seculorum. Mais valerá nos recusarmos a espoliar e a ser espoliados; abdicarmos da incessante busca da panacéia instantânea para nossos males; e renunciarmos à preguiça dos feriadões e à expectativa do argumento do não-trabalho. Inútil pontificar, sob a etílica inspiração das happy-hours, que a estrutura colonial – a monocultura, a mão de obra escrava, o latifúndio, a produção enviada para além-mar – se perpetua: ontem o açúcar, hoje a soja; antes o escravo, depois o bóia-fria; lá o engenho gigantesco, aqui os hectares vazios; ontem o abastecimento das cortes, hoje as exportações subfaturadas. Mais valerá, pelo exercício consciente do voto – em idéias, não em nomes ! – exigir que esse quadro se inverta, Ad Majorem Brasiliae Gloriam !
Inútil bradar contra a persistência das Capitanias, hoje não apenas territoriais – Ah, os caciques e seus currais ...- mas também econômicas – Ah, os oligarcas de urbe et orbi , das lavouras e das forjas, mega-mascates ou giga-argentários. Mais valerá repudiar o preço injusto do que deixar-se explorar, adquirindo o supérfluo, mais para os olhos do vizinho que por necessidade. Que importa a quem vende que o preço aumente, se sempre haverá quem o pague ?
Inútil lamentar não ter sido feudal o Condado Portucalense, como em Anglia et alii, que por isso se tornaram Estados Contratuais: pelo tributo do servo, a proteção do suserano. No taxation without representation, desde a Magna Carta de João-sem-terra (premonitor do MST ?). Direitos e deveres, essência da democracia. Por meu voto, tua ação em nome das idéias que eu defendo e tu representas. Não, não; em terras lusas, pelos sete séculos mouriscos, fez-se o Estado Patrimonial – a oligarquia das famílias; dos nobres a abjurarem o trabalho e a se devotarem às letras e artes; ou à navegação; pelo que, somos hoje um universo de doutores sem trabalho; e menosprezamos o não-bacharel; e idolatramos as paróquias, cartórios e igrejinhas – corruptelas das famílias. Aos irmãos, tudo; aos demais, a lei. Ou a morte. Que valerá lamentá-lo ?
Mais valerá aprendermos o sentido comunitário da vida. E que o façamos de moto próprio, antes que premidos pelos requisitos de segurança que nos são impostos pela violência incontida das ruas e do campo. Com a qual pactuamos, desde a vista grossa sobre quem lança um dejeto à sarjeta, até a fuga da cena do crime, por medo do testemunho.
Inútil clamar não termos sido Nação, por ter Lisboa imposto sua já sofisticada ordem jurídica à tribo centrípeta de degredados, selvagens e servos – nossos tetravós - , vindo sua homeostase a se fazer diretamente no estado notarial, paternal, assistencial. Mais valerá fazermo-nos Nação, aqui e agora. E não mais apenas na euforia do desporto ou na momesca manifestação folclórica. Mas no orgulho de nossa tropicalidade.
Às favas, pois, a vergonha das origens; por isso nos dificultam hoje o ingresso em terras cujos filhos recebemos. Basta de auto-escárnio; de nos vermos como Dorian Gray., horrorizando-nos ante nosso próprio retrato – afinal, não pactuamos nossas almas com Lúcifer; a spit image que criamos de nós mesmos é apenas virtual, eis que não nos entregamos (ainda) à dissolução dos costumes. Todavia, parece estarmos próximos dela; a pornografia, a narcotraficância, a impunidade e a corrupção nos rondam. Verdade é que não têm a dimensão do Brasil. São obra de poucos. Mas ecoam, em altissonante falácia de generalização, como se impressas estivessem em nossas almas. E mais as agravamos, ao tentarmos resolvê-las pela ética do atalho - o jeitinho, o caminho mais curto, e finalmente a trítica e circular iguaria napolitana. E por isso escondemos nosso rosto.
Mais valerá oferecermos ao mundo, de uma vez por todas, o rosto que sabemos ter, que reflete, como no poema de Chico e Ruy, o sereno jeito de nossos corações e o golpe duro e presto de nossas mãos.
Dos elementos de nossa identidade, já honramos de há muito o Hino e o Pavilhão; soerguemos a moeda, a duras penas; todavia, engatinhamos ainda, dentre outros traços, na preservação da última flor do Lácio. Mas chegaremos lá, sem medo de sermos brasileiros – e felizes. Principalmente se mais buscarmos com empenho o futuro que espelhará nossa grandeza, do que nos autoflagelarmos com desânimo pelo passado que reflete nossa rudeza.
7 de fevereiro de 2009 às 18:16
Sou uma pessoa que respeita demais a sabedoria oriental, já que ela vem de berço.Infelizmente seu monge é brasileiro e então,a salada está feita.Vivi infância e adolescência nos chamados anos de chumbo. Cresci num ambiente sadio, com muito amor, respeito e disciplina, sabendo que só poderia usar dos meus direitos se cumprisse meus deveres.O Estado se fazia presente,investia diretamente na qualidade de vida dos cidadãos, fosse na educação, saúde, segurança, emprego, moradia enfim, tínhamos REFERÊNCIAS de como se tornar um adulto de bons costumes. Sonhos e esperaças faziam parte do nosso cotidiano. Hoje perdemos a dignidade do que significava a "palavra de honra", a confiança, a ética,nada mais faz sentido. E este novo mundo não é o meu mundo. Ao menos não é este que eu pretendo deixar aos meus descendentes. E se você por acaso conseguir encontrar o esconderijo ou mesmo as lápides das REFERÊNCIAS, por gentileza, me avise. Procuro-as desesperadamente, nem que seja para chorar e levar flores. E na volta de lá, continuarei brigando com estes predadores que aí estão, fazendo a festa com os cofres públicos e nadando de braçadas na popularidade. O mundo é redondo, tudo o que vai, retorna! E voltando aos monges, aquele que souber vivenciar intensamente a PACIÊNCIA, saberá que um dia resgatou o que se perdeu pelo caminho. E eu quero viver isso!
Hoje sou eu a rebelde, sou eu a "transgressora", mas não faz mal. Daqui há 30 anos entrarei na justiça e receberei indenização milionária, que deixarei aos meus filhos e netos. Um ótimo investimento!
Parabéns pelo artigo, gosto de assuntos que levantem polêmicas.
8 de fevereiro de 2009 às 02:09
Desculpe Márcio, achei que você tivesse alguma queda pelo socialismo, só isso. Imaginei que história fosse inventada, só me encuquei com o aspecto socialista da história.
Temos que acabar com esse feudalismo que domina a política, principalmente brasileira, onde a corrupção é apenas a regra do "amo", agora comunista e coronelista do "pudê".
Abraços.
ari
8 de fevereiro de 2009 às 04:14
Com o nosso judiciário a serviço dos abastados e dominantes, arrastando por anos processos que acabam se extinguindo por decurso de prazo e outras manobras, não há democracia que dê jeito neste País. Chega de impunidade. Acorda Brasil!!!
8 de fevereiro de 2009 às 05:52
Paulo Panossian tocou num ponto sensível, a esperança, essa que embora a situação se mostre deplorável nos dá perspectiva de um futuro melhor. Só ela [esperança] faz com que nós não desistamos e continuamos a denunciar as injustiças democráticas.
Márcio Alexandre da Silva – Autor do texto original
8 de fevereiro de 2009 às 06:01
Gil começou com uma afirmação pertinente “Falta-nos um rosto, uma identidade.” E mais adiante enfatiza “Mais valerá aprendermos o sentido comunitário da vida”. Essas e outras observações valerá ao lermos o belíssimo comentario de Gil Ferreira
Márcio Alexandre da Silva – Autor do texto original.
8 de fevereiro de 2009 às 06:07
Ana essa salada é boa (risos.
Outrora tínhamos referencias, mas agora? Perdemos as referencias e alguns valores com ética, respeito e dignidade.
Vamos combinar assim vamos procurar referencias que achar primeiro avisa o outro (risos), espero que tenha mais sorte...
Obrigado, belíssimas considerações.
Márcio Alexandre da Silva – Autor do texto original.
8 de fevereiro de 2009 às 06:12
Ariovaldo desculpas aceitas (risos).
A historia é literaria, mas tem muito a ver com a realidade.
Mas se quiseres discutir socialismos, marxismo e feudalismo dominante. Esse espeço é um canal aberto.
Obrigado Ari (respeitosamente), pois você sempre tem contribuindo para elevar o nível da discussão continue a colaborar. Obrigado e parabéns pelas exposições e defesas de suas idéias.
Márcio Alexandre da Silva – Autor do texto original.
8 de fevereiro de 2009 às 06:15
Fica enfatizado o apelo de Angelo Antonio Maglio “Acorda Brasil!!!”.
Concordo contigo esta na hora do povo brasileiro acordar do sono esplendido.
Antonio participe quantas vezes quiser. Obrigado!
Márcio Alexandre da Silva – Autor do texto original.
8 de fevereiro de 2009 às 10:16
Acredito que num passado muito distante tivemos sim grandes referências, homens e mulheres que fizerão a diferença, se espelhando neles próprios e nos seus ideais para conseguirem seus espaços na sociedade e na memória brasileira. Hoje em meio a tanta bobagem que vemos e ouvimos nos esquecemos de sermos nossas proprias referências, apoiando - nos nos nossos próprios ideais e sonhos. Não precisamos esperar novas referências no ano de 2009, sejamos nós, eu e você nossas próprias referências, para sim contribuir - mos para a melhora de nosso país.
8 de fevereiro de 2009 às 10:38
Decididamente comungo da colocação de Roseli Espessotti “Não precisamos esperar novas referências no ano de 2009, sejamos nós, eu e você nossas próprias referências, para sim contribuir - mos para a melhora de nosso país.”
Obrigado, Roseli pela contribuição... participe outra vezes!
Márcio Alexandre da Silva – Autor do texto original.
9 de fevereiro de 2009 às 07:40
Fugir do Brasil em 1964 e ir viver no Tibet, sob dominação da China comunista?
É..., tem louco prá tudo.
9 de fevereiro de 2009 às 07:45
Flavio obviamente é uma linguagem figurada, o jovem somos todos nós e Tibet alegoricamente é a nossa paz interior, onde buscamos forças para enfrentarmos as dificuldades da vida.
Mas, suas considerações são pontuais, historicamente corretas e de uma belíssima visão global. Parabéns!
Márcio Alexandre da Silva – Autor do texto original.
9 de fevereiro de 2009 às 09:58
Excelente texto! Atual, oportuno e acima de tudo, profundo. De fato nosso tempo ressente dessa falta de referências, de líderes, de um Norte. Os jovens por hoje viverem num país democrático, não levantam bandeiras como no passado. Não possuem ideais de lutas e conquistas. Ver Sarney retornar à presidencia do Senado,Temer na Câmara, nos enche de desanimo, de descrédito neste país. Lamentável....
9 de fevereiro de 2009 às 11:28
Simplesmente tenho de agradecer a colaboração dessa magnífica pessoa.
Iranilson obrigado pela sua colaboração.
Márcio Alexandre da Silva – Autor do texto original.
9 de fevereiro de 2009 às 14:48
Prezado professor,
fui gratificado pela sugestão de acessar e conhecer seu blog. Gostei muitíssimo do que li! Creio que essa linha de exposição utilizando o formato dos "Diálogos" utilizado pelos clássicos corresponde a uma forma pedagógica muito eficiente. Volte a ela, sempre que possível. E parabéns por três razões: iniciativa, forma e conteúdo.
Cordial abraço
Percival Puggina
puggina@puggina.org
www.puggina.org
PS - Você autorizaria transcrever algum desses textos, eventualmente, em meu próprio site, dados os devidos créditos ao autor e a seu blog?
9 de fevereiro de 2009 às 17:41
Puggina obrigado pelo seu comentario.
Da minha parte dando créditos ao autor e o blog não há problema algum usá-los no seu site. É prazer colaborar contigo.
Agradeço.
Márcio Alexandre da Silva – Autor do texto original.
10 de fevereiro de 2009 às 18:29
De início, cumprimento a Ana Prudente e destaco minha satisfação em reencontrá-la depois de um longo período. Correspondemo-nos ao tempo da "TPV - Turma da Pá Virada". Prazer em reencontrá-la, Ana !
Sobre conversas de jovens e velhos, não necessariamente monges:
Um jovem concluiu seu Curso de Filosofia e, imaginando ter-se tornado onisciente, decidiu testar seu velho Mestre:
- “Mestre, sei responder a qualquer pergunta que o Sr me fizer; quer me testar?”
E o Mestre:
- “Como não ! Vejamos. Dois homens sobem ao topo de uma chaminé e escorregam por dentro dela. Chegam ao solo, um tem o rosto sujo, o outro não. Qual deles lava o rosto?”
Responde o jovem: “O de rosto sujo, claro !”.
E o Mestre – “Não, meu jovem; é o de rosto limpo, porque vê o outro com o rosto sujo e raciocina que o dele também está, por isso corre a lavá-lo...”
O jovem fica fulo, mas não demonstra. Diz apenas: “Sim, Mestre, o Sr tem razão. Mas pode me testar outra vez ?”
E o Mestre:
- “Mas claro ! Vejamos. Dois homens sobem ao topo de uma chaminé e escorregam por dentro dela. Chegam ao solo, um tem o rosto sujo, o outro não. Qual deles lava o rosto?”
O jovem se exalta – “Ora, Mestre, isso o Sr já perguntou e respondeu ! É o de rosto limpo!”
E o Mestre – “Não, meu jovem; é o de rosto sujo, porque o que está com o rosto limpo vê que o outro tem o rosto sujo e avisa – ‘seu rosto está sujo’....”
O jovem fica rubro como um pimentão, mas engole em seco e pede que o Mestre lhe dê uma terceira chance.
E o Mestre
- “Com prazer ! Vejamos mais uma vez. Dois homens sobem ao topo de uma chaminé e escorregam por dentro dela. Chegam ao solo, um tem o rosto sujo, o outro não. Você acha que isso é possível ?”
10 de fevereiro de 2009 às 19:09
Valeu o blog sendo ponto de encontro o Gil Ferreira se reencontrou com a Ana. Aqui também é um ponto não somente de pessoas, mas também de discussão. E depois, Gil nos presenteou com essa provocante historia, reflitamos sobre ela. Ou ele mesmo [Gil] pode nos explicar em outro comentário?
Abraços e obrigado.
12 de fevereiro de 2009 às 10:55
Muito bom o texto, simples e direto, mas vejo um erro grave, muito grave neste trecho "Deixando saudade do sindicalista sincero e sensível às necessidades dos necessitados." O lula nunca se preocupou as necessidades dos outros, desde sindicalista ele só pensou em não trablhar e se dar bem na vida, usou o sindicato como palanque para sua falta de vontade. Eu sei, e muitos sabem das historias desse individuo quando sindicalistas, acordos, conhavos, greves ilegais para beneficiar os patrões, até mesmo o embrião do mensalão, que foi em São José dos Campos em 92. Todos nós precisamos de um referencial, e infelizmente o povo viu algo especial nele, que mesmo após inumeros casos de corrupção, desvios caixa 2, ainda o acham inocente.
Abs a todos
12 de fevereiro de 2009 às 13:16
Allan fez um aceno interessantíssimo. Embora a popularidade do Lula, convém pesquisar a historia dele [Lula] e fazer as devidas ponderações.
Penso que Allan foi muito feliz nos apontamentos.
Participe mais vez, abraços........
Márcio Alexandre da Silva – Autor do texto original.
14 de fevereiro de 2009 às 14:12
Um texto bem elaborado e descrito de uma maneira que confunde o real com o imaginário . Realmente os políticos de qualquer extracto social quando alcançam o poder esquecem o passado e vivem como se tivessem vivido sempre um conto de fadas . Não conheço a realidade do Brasil a não ser pela notícia na televisão . O presidente Lula não se tem saído mal , o Brasil tem condições para ser uma grande potência mas a corrupção fala mais alto . Agora que falou no padre Marcelo , que é feito dele ? Nunca mais o vi na televisão . Abraços
16 de fevereiro de 2009 às 14:32
Gabriela, às vezes penso que os políticos estão no mundo da lua, e não se preocupam com o Brasil.
Quanto ao Padre Marcelo a mídia o criou e ela [mídia] o tirou de cena quando quis.
É a mídia [Globo] fazendo o que quer.
Boa participação visite mais vezes, obrigado!
Márcio Alexandre da Silva – Autor do texto original.
15 de março de 2009 às 07:55