Por Márcio Alexandre da Silva *
Educação: assunto discutido desde da antiguidade até nossos dias. Isso demonstra a importância desse debate.
Agostinho (354 – 430 d. C) com seu modo peculiar de escrever nos induz a concluir que
suas bases educacionais advêm de Platão (427 – 347 a. C). O escritor transmite seus conteúdos filosóficos e doutrinários através de escritos. O livro Confissões marca uma nova etapa na história do autobiógrafo que acena para concepção da razão humana do ponto de vista tanto psicológico quanto filosófico.
Após breve introdução sobre o pensador usaremos as obras Doutrina Crista e O Mestre, para fundamentar sua tese educacional. Segundo o pensador “o professor não é protagonista do processo educativo sozinho; o aprender depende muito do interesse do aluno”. Nessas bibliografias ele afirma que “O professor apenas direciona o caminho a seguir e o aluno segue o caminho indicado pelo educador”.
Nesse ponto deparamos com um sério problema educacional: tratado por Agostinho nos séculos quarto e quinto, mas, atual aos nossos dias. O aluno é protagonista do seu conhecimento. Mas, vemos na atualidade algumas afirmações subentendidas e outras claras de que: se o aluno vai mal no SARESP, a culpa é de quem? Do professor? O aluno não recupera a defasagem de aprendizagem; de quem é a culpa? Do professor? O aluno briga na escola; quem é culpado? O professor que não educa? [A função do professor é educar?] O aluno não participa; culpa de quem? Do professor que não o motiva? E por aí vamos com exemplos infindáveis...
Não se trata de acharmos culpados. Mas a solução começaria quando todos, sem exceção, alunos, professores, estado, família, comunidade e outros seguimentos da sociedade assumissem a sua parcela de responsabilidade nesse frágil processo educacional. Não adianta ideias pioneiras de colocar professor recém aprovados para fazer cursos. Manifesto meus apoios a essa iniciativa, desde que os políticos [principalmente os favoráveis a essa prática], aprovem o projeto de lei que torne obrigatório que políticos eleitos antes de exercer cargo público passem por uma escola. [Não é justo?] Lá eles iam aprender como administrar, gerenciar o dinheiro público, teriam noções de ética e honestidade, que legal! Esse estágio serviria principalmente para alguns aprenderem que exercer cargo político não função vitalícia.
Os políticos são funcionários públicos temporários. Ah! Se pelo menos isso ficasse claro para alguns políticos. Já seria de grande valia esse cursinho – para formar políticos.
Mas lá no fundo do meu intelecto, a minha consciência sussurra... psiu, cale a boca, fique quieto, não pode reclamar do governo! Aí meu lado crítico não se suporta e exclama: calar-se! Por quê? A ditadura não terminou em 1985? Ou não podemos expressar as nossas ideias e pensamentos?
Findo deixando dois aspectos que auxiliará a melhora da educação: o primeiro é estrutural: mudar o espaço físico das escolas e salas de aulas, ambientá-las, mudar a disposição das cadeiras, essas são extremamente desconfortáveis; penso que, lousa e giz será objetos obsoletos em breve.. enfim investir mais em infra-estrutura. O segundo é o investimento no material humano: melhores salários, professores mais satisfeitos; plano de carreira; entre outras medidas mudará esse triste contexto.
Não estou isentando os professores e as professoras da sua parcela de responsabilidade. Mas, pô-los como únicos culpados, como alguns querem ou fazem é uma tremenda injustiça que só corrobora para piorar ainda mais o quadro educativo, municipal, estadual e nacional.
* Formado em Filosofia e educador da rede pública de ensino do Estado de São Paulo- Assis - SP. Contato: marciobressane@hotmail.com
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4 de julho de 2009 às 08:27
"Mas a solução começaria quando todos, sem exceção, alunos, professores, estado, família, comunidade e outros seguimentos da sociedade assumissem a sua parcela de responsabilidade nesse frágil processo educacional."
Conhece algum exemplo na educação ou fora dela em que algo tão utópico tenha sido feito? Todos perceberem ou fazerem algo nunca pode ser solução para nada - porque é extremamente improvável que alguma vez suceda.
As pessoas são diferentes, têm gostos, interesses e ideias diferentes - às vezes algumas têm ideias semelhantes mas exprimem-nas de modo diferente e discordam à mesma - , pelo que naturalmente cada uma vai para seu lado. Nunca haverá esse género de consenso.
Claro que a culpa não é só dos professores. De resto, não faz muito sentido falar assim: "os professores" - isso é uma enorme generalização. Há professores muito incompetentes - que têm a maioria das culpas. Há alunos muito preguiçosos e/ou pouco inteligentes - que têm a maioria das culpas. E há outros factores nas sociedades actuais o conhecimento e o próprio trabalho não são especialmente valorizados.
O que fazer? Dar importância a factores externos (como exames nacionais e inspecções feitas por entidades exteriores à escola) aos alunos e aos professores e que os obriguem a todos a dar o seu melhor ou a sofrer as consequências. E perceber que por muito melhor que seja o sistema de ensino haverá sempre alguns alunos que não aprendem - porque não gostam, porque não têm inteligência, porque não querem por um motivo individual qualquer, etc. Mas se o sistema for bom serão poucos - até porque um bom sistema tem alternativas: quem não gosta de filosofia ou química aprende jardinagem ou a fazer bolos!
4 de julho de 2009 às 11:53
Carlos obrigado pela sua colaboração.
Mas, a realidade é que pouco se aprende nas nossas escolas públicas no modelo atual que temos.
O artigo não apresenta verdades sobre o assunto, mas, são luzes, do ponto de vista de um educador.
Participe sempre que quiser e puder esse é um canal aberto de debates.
Márcio Alexandre da Silva – Autor do texto (EDUCAÇÃO)
4 de julho de 2009 às 12:59
Prezado Professor Márcio,
Resta-me, numa visão não de mestre posto que não exerço o magistério, apenas dizer o que observo e tento repassar no texto que se segue:
EDUCAÇÃO - DESVIRTUAMENTOS – A EDUCAÇÃO de hoje que, pasmem, sequer tem definida uma tendência pedagógica padrão que a norteie e ainda mais cujos conteúdos das grades curriculares se acham replenos de inutilidades - perfeitamente descartáveis e sem prejuízo de um ensino de qualidade, divaga perdida em discussões meramente acadêmicas, filosóficas, técnico-burocráticas, tornando-se uma “Casa-de-mãe-joana”. Desde o tratamento dispensado aos professores a quem não bastasse o salário aviltante, ridículo para uma categoria especialíssima - pilar maior da nossa formação, mas a quem hostilizam e submetem, sistematicamente e de forma até escravocrata, a jornadas ilegais e outras espécies de explorações que são adotadas como práticas correntes, ainda os perseguem. Muitos são preteridos por ações meramente politiqueiras onde se prioriza a opção político-partidária e não a sua formação ou competência individual e devotamento. Acrescente-se a falta de organização, de união, até o temor a toda espécie de represálias e violência que é percebível claramente no meio docente. Muitos vivem sobressaltados. À classe negam-lhe direitos assegurados (o Piso Salarial, por exemplo); dificultam-lhe a acessão a um plano de carreira justo e até sonegam o acesso a dados essenciais – um simples contracheque, por exemplo. Chegam ao cúmulo de frisar abertamente que um concursado é menos íntegro e capaz que um contratado, como se o concurso não fosse um mecanismo legítimo, para se atingir o serviço público e não um fator negativo para o exercício da profissão. (É que o contratado é mais fácil de manipular, explorar, só isso! E por esses optam para trabalhar.) Como se não bastasse o trabalho em horários não remunerados (sábados letivos, como um exemplo), impõem aos mestres tarefas extras e incompatíveis com as suas funções primordiais, tais como: cursos de formações para discorrer em sala sobre educação no trânsito; saúde; meio ambiente, drogas etc. (Para isto há os profissionais das áreas específicas que, negligentemente, não são acionados por quem competiria.) Decorre daí uma carga excessiva de atribuições e os professores perdem o seu referencial. Ademais, fizeram da ESCOLA um depósito de crianças e adolescentes, sobre muitos dos quais os pais já não mais exercem domínio disciplinar, e cômoda e irresponsavelmente os responsáveis as entregam nos estabelecimentos educacionais a exigir uma função social reparadora que em princípio não lhes é de ofício. E ai daquele professor ou diretor que ousar tentar disciplinar com mais firmeza, pois além dos pais protetores que surgem em defesa dos seus filhos “inocentes, anjinhos”, até os Conselhos Tutelares podem intervir. Enquanto isso, e como resultante, a violência grassa ainda que dissimulada, mas que já inconteste e incontida, contra quem ousar aplicar um disciplinamento mais eficaz, conveniente. De tudo já resulta em uma educação precária, ZERO, onde a criança termina a sua formação básica, essencial, sem saber ESCREVER e LER (fundamentos) ou entender o que ler, e a sua formação cidadã é altamente prejudicada ou inexistente. Este é o presente e futuro que estão e continuarão legando aos filhos dos pais atentos, dos desatentos e de alguns excessivamente protetores. Tenebroso! Impõem-se um REPENSAR imprescindível e inadiável, antes que tardio!
Hildeberto AQUINO
Russas (CE)
4 de julho de 2009 às 18:12
Hildeberto obrigado pelo comentário.
Quando disse que era uma visão de um professor, não quis desmerecer ninguém, apenas quis dar ênfase que estou todos os dias em sala de aula e sei como temos que matar um leão por dia.
Mas, seu ponto de vista, foi interessantíssimo e contribui para o debate.
Gostei enfaticamente dessa parte “Ademais, fizeram da ESCOLA um depósito de crianças e adolescentes, sobre muitos dos quais os pais já não mais exercem domínio disciplinar, e cômoda e irresponsavelmente os responsáveis as entregam nos estabelecimentos educacionais a exigir uma função social reparadora que em princípio não lhes é de ofício.”
Achei seu comentário fantástico. Parabéns!
Participe mais vezes!
Márcio Alexandre da Silva – Autor do texto (EDUCAÇÃO)
5 de julho de 2009 às 17:10
A Escola era risonha e franca
Sim, como no "Estudante Alsaciano", de Acácio Antunes, a escola pública era risonha e franca. Anos 50, professoras excepcionais, formadas pelo Instituto de Educação ou a Carmela Dutra. Português (dizia-se "Linguagem"), Matemática e Conhecimentos Gerais (Geografia, Historia, Desenho e Ciências). Livros didáticos afamados, cadernos encapados e inspecionados amiúde pelas mestras, trabalhos de casa, provas mensais e parciais em papel almaço...Canto Orfeônico - todos os hinos imagináveis, inclusive o do país que dava nome à Escola, com cuja Embaixada mantínhamos cerrado intercâmbio cultural. Quintanistas como Porta-Bandeira e Guarda de Honra, trazendo majestosamente o Pálio duas vezes na semana, para ser saudado com o canto do Hino Naconal. Rudimentos de Ordem Unida - sentido, cobrir, marchar - pois desfilávamos, naquelas duas vezes, na própria escola, cantando Fibra de Herói e outros hinos. E também em datas cívicas, pelas ruas do Rio. Trabalhos manuais, da massa plástica à serra tico-tico. Merenda escolar de qualidade, processada na excelente cozinha da Escola. Posto de Saúde com Médico e Dentista - ali recebi todas as vacinas e fiz várias abreugrafias. Biblioteca, auditório com sessões semanais de cinema ou teatro, visitas a museus...Comemorações de dezenas de datas cívicas e festivas, com nossa participação ativa, subindo ao palco para ler, declamar, cantar, encenar dramatizações - 7 de setembro, 15 de novembro, descobertas da América e do Brasil, fundação do Rio, dias do soldado, do aviador e do marinheiro, dias das mães e dos pais, dia da árvore, festas juninas, Natal...Rudimentos de política - funcionamento dos três poderes, nas três esferas...Uniformes azuis e brancos impecáveis, "EP" bordado no bolso, divisas na manga, muitas aulas de higiene, educação física...Ah, sim - mesclávamo-nos harmoniosamente, brancos, pretos, mulatos, caboclos, nissei e até estrangeiros...ricos, pobres e remediados...católicos, protestantes, espíritas...Juntos brincávamos no recreio, de bola-de-gude, bandeirinha, pique...Juntos discutíamos às segundas-feiras os resultados do futebol...Namorávamos platonicamente, trocávamos fatias das merendas trazidas de casa, fazíamos "vaquinhas" para comprar e repartir gulodices nas carrocinhas da Kibon, ajudávamo-nos uns aos outros nos trabalhos de casa...
Quem terá, Deus do Céu, acabado com essa escola risonha e franca ? Será tão difícil assim refazê-la ? Ou é mais fácil criar-se quotas (leia-se privilégios) que geram votos para demagogos e semeiam entre nós um odioso e progressivo apartheid que nunca existiu no Brasil ?
Com a palavra os brilhantes políticos que nos governam.
7 de julho de 2009 às 15:12
Caro Márcio, e caros amigos, acho que vocês já descreveram a escola, principalmente, nossa escola no Brasil.
Já comecei a falar sobre isso, em uma mensagem anterior, e vou apenas complementar, com coisas mais pragmáticas.
Disse anteriormente que o "instinto" do homem começa a ser "programado" na gestação, continua na infância dentro do lar (ou deveria), e depois entra na sociedade através da escola (ou deveria). Tudo está em formação e principalmente, a mente, por isso a "infância" do homem dura 1/3 de sua vida, e de qualquer outro animal, não chega a 1/10. O aprendizado da razão é mais complexo.
Outro dia li um artigo sobre a questão da leitura, que parece uma dificuldade para todo mundo. E é mesmo, pelo menos para a maioria. Simples. Ler é um "exercício físico" desgastante. Quando se lê, se usa a vista, as cordas vocais, os ouvidos, a cabeça, os braços etc., e todos os músculos diretamente ligados a eles. Se ninguém fez exercícios para ler, vai ter dificuldade mesmo, e a leitura é cansativa, enfadonha, demorada, etc. etc. Há hoje métodos de leitura mais rápida, eficiente, etc., mas nem se pensa em começar na "infância" como outra matéria qualquer!! Suponha que a criança aprendesse a ler somente pela vista, ligando a palavra ao fato. Exemplo, em vez vaca (v-a-c-a), a própria vaca e a palavra!!
E onde se deveria começar o "exercício" da leitura, pouco importa se um livro de papel ou um livro da mídia? Na escola do Jardim da Infância, continuaria na primária e secundária, e quando chegar à Universidade, o aluno está "fisica e mentalmente" preparado para ser um "sábio"!! Hoje formamos quase semi-analfabetos!
Não sou expert no assunto, mas as discussões sobre assunto, tratam de considerar o que um "expert de educação" acha o que o aluno deve aprender!!
Por exemplo, a caligrafia deixou de ser "matéria na escola" e no entanto, quem lê e não escreve, lê pela metade!! E qual a diferença de escrever com um lápis ou com uma tecla??
E a criança começa "lendo" letras, e depois junta para ler uma palavra, e depois uma frase, etc. Aprendemos a ler "soletrando letras", uma estupidez cansativa, porque ao ler, "falamos e ouvimos" além de "olhar", chacoalhar a cabeça para lá e para cá, para cima e para baixo, etc. etc.! Temos que ser "atletas" para ler muito!!
E vamos mais além no quívoco. Lista-se um monte de livros "que os professores acham interessantes para o aluno", e vai Monteiro Lobato, Olavo Bilac, etc. etc., e em algumas escolas mais "elevadas", chegamos ao absurdo de "entender Camões", que ele mesmo acho que não se entendia!!
E se formam "alunos" que não sabem ler, não sabem escrever, e vão para o ensino médio, e depois para a faculdade. E na faculdade, muitas vezes conseguem se formar sem ler sequer um livro, nem do assunto em que se forma!!
E todo o conhecimento da humanidade está registrado em livros ou similares, através das artes, da religião e da ciência, e entendemos que estamos formando "adultos" paras conseguir ser "homens inteligentes"!
E agora ponham em cima disso, tudo o que vocês, inclusive o Márcio, disseram acima, e está aí o quadro do ensino no mundo e em particular no Brasil, na rabeira do mundo civilizado.
E "medimos" o ensino do aluno, através de provinhas "múltipla escolha", e achamos que a escola está assim ou assado, e pior, acreditamos nisso!!
Não estou criticando os professores, mas eles também estão equivocados, mesmo ganhando a meleca que ganham para "ensinar" o que lhe mandam!!
Se não juntarmos os conhecimentos da arte, com os da religião e os da ciência, num mesmo caldeirão de conhecimentos, vamos continuar chovendo no molhado na questão do ensino. E formamos cientistas cuja moral e ética ainda está no nível dos Faraós. Não se consegue ser sábio, apenas aprendendo matemática!! Toda religião está careca de dizer isso!!
Ariovaldo.