EXISTÊNCIA

Quando falamos em existência pensamos logo na célebre frase cartesiana “Penso logo existo”.
Quando morei em Marília - SP, costumávamos visitar moradores de rua com uma comunidade religiosa (Toca de Assis) e lembrei-me deste episódio. Certa ocasião, um irmão de rua procurou uma delegacia de polícia para registrar uma agressão sofrida, chegando ao recepcionista foi indagado:
- Tens documentos?
Ele afirmou:
- Não.
- Onde moras? - prossegue o entrevistador.
- Não tenho onde morar! - responde, sem jeito, o irmão de rua.
O atendente pergunta: - Qual seu nome completo?
- Todos me chamam de Tião!
Daí o funcionário, dá o golpe definitivo: - Meu caro, sem endereço, documento e nome, para o Estado, você não existe, positivo. Tenha uma boa noite! - disse o recepcionista em voz intransigente.


Nós filósofos devemos no perguntar: Como? Pensar não é existir? Como na célebre cartesiana. Não tenho dúvida que este morador de rua pensava (em como se alimentar, onde dormir, e outros pensamentos próprios de cada ser). Daí, indago: Afinal, ele existe? Ou não?

Tento responder a pergunta da seguinte maneira, seguindo a linha de raciocínio da antropologia filosófica, que afirma que a existência não está submetida a nome, trabalho, moradia, embora isto faça parte do existir. Mas num linguajar existencial antropológico, o ser humano existe enquanto pessoa, gente, sonhador, lutador e sofredor. O que vai implicar a existência deste morador de rua é o meu e o seu tratamento para com essas e tantas outras pessoas que ficam à margem da existência humana.

O que fazemos para mudar esta realidade? Independentemente de sermos políticos, nossas atitudes devem ser prol dos menos favorecidos.

Esta história parece um mito, mas não é. É a mais pura verdade da realidade brasileira.
Quando eu criarei consciência ética e responsável para cobrar postura semelhante dos outro?


Por Márcio Alexandre da Silva (Márcio Alexandre da Silva é formado em Filosofia e educador da rede pública de ensino do Estado de São Paulo)